domingo, 7 de dezembro de 2008

Fantasma da crise


Fonte: http://www.vermelho.org.br/pcdob/classe/09/p3-mat1.asp

Fantasma da crise

Montadora recebe dinheiro, mas não usa
De olho em aumentar seus lucros, GM retém empréstimo feito pelo governo

METALÚRGICOS da GM estão preocupados com 2009

No sistema capitalista, o preço das crises sempre cai sobre os ombros dos trabalhadores. Na atual, as coisas são semelhantes. Epicentro da atual onda de temor econômico, os Estados Unidos ja assistiram executivos de grandes empresas abocanharem milhões de dólares antes de a crise estourar. No caso do banco de investimentos Lehman Brothers, um dos símbolos da irresponsabilidade financeira, 20 mil funcionários foram demitidos em todo o mundo. Enquanto isso, um de seus executivos embolsou mais de US$ 100 milhões.

Os patrões querem cortar empregos e salários, denuncia um metalúrgico
A chantagem dos patrões “Quem fez a crise não foi o povo, mas quem paga somos nós”, diz Marcelo Toledo, primeiro-secretário do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Caetano do Sul, em São Paulo. Ele conta que na General Motors brasileira – que tem fábricas na cidade do ABC, em São José dos Campos e em Gravataí (RS) – os efeitos já são sentidos pelos funcionários, não porque, em sua opinião, já tenha havido uma diminuição brusca no consumo, mas porque as montadoras têm tentado se aproveitar do momento para chantagear o governo e os trabalhadores, e aumentar seus lucros.

Ademir Justino Cassemiro, conhecido como “Cabeça”, está a dois anos na GM. Ele questiona o uso do dinheiro vindo dos governos federal e de São Paulo (R$ 8 bilhões ao todo) para financiar as vendas de carros. “A GM não está financiando nada. Está retendo esse dinheiro e ainda reduziu o prazo de financiamento para 36 meses. Eles querem aumentar seu lucro”. Paulo César, o “Pão Doce”, também funcionário da GM, concorda. “A quem interessa importar essa crise para cá? Ao patronato. Ele a usa como desculpa para diminuir salários e direitos trabalhistas”. “Eles querem cortar empregos dos operários, mas não pensam em fazer o mesmo na área administrativa. Mesmo nesse período de instabilidade, para eles, a coisa ainda não está tão ruim assim”, assegura José Divino, ou “Barba”, há 23 anos na GM.

1,2 bilhão para as matrizes
Divino tem razão. Estima-se que as montadoras no Brasil devem aumentar suas vendas em 24% neste ano. Em 2007, este índice também foi recorde, então de 27,8%. Esses números explicam também o fato de esse ramo ter sido responsável por mais da metade dos lucros remetidos para fora do Brasil, ou seja, para as matrizes que ficam em outros países. De acordo com o Banco Central, foram mais de US$ 1,2 bilhão em 2007.

Para Marcelo Toledo, é preciso que os governos exijam contrapartidas para empréstimos tão altos. Entre elas a garantia de manutenção dos empregos dos operários. E questiona: “as montadoras têm batido recordes sucessivos de vendas e a GM do Brasil é uma empresa saneada, ou seja, não há motivos para querer prejudicar os trabalhadores argumentando ser a crise a culpada”.



Trabalhadores temem futuro
A GM brasileira ainda não sofreu o baque da crise da matriz, que está à beira do precipício. No dia 20 de novembro, a empresa americana teve seu valor de mercado avaliado em apenas 1 bilhão de dólares – menos do que valia em 1938, quando o mundo ainda passava pela Grande Depressão iniciada em 1929. Os funcionários brasileiros temem pelo que pode acontecer aqui se for decretada a falência lá.

Só neste ano, a filial de São Caetano já teve uma semana de paralisação remunerada, dez dias de férias coletivas e seis day off (dia paralisado). Nestes dois últimos casos, os trabalhadores não recebem nada e ainda têm os dias descontados de suas férias e do banco de horas.

Terceiro turno em risco
Marcelo Toledo, primeiro-secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, lembra que para cada empregado direto da GM existem outros quatro na cadeia produtiva. Por isso, empresas como Scorpions, Oversound, Salmazo e A. Pedro também entraram na dança das férias coletivas. Na última ja houve redução de 50% no quadro de seus 300 funcionários. “E a Barili está querendo pagar o 13º em quatro vezes e para aqueles que não aceitam, a empresa ameaça com demissão”, denuncia Marcos Parra, diretor do Sindicato.

Segundo Toledo, os trabalhadores do terceiro turno (da meia noite às 6 da manhã) estão em situação mais instável. Isso porque em 2008, depois de negociação com o Sindicato, foram criados 1.600 postos neste horário para que a GM cumprisse sua meta de produzir 460 mil carros até o final do ano. Porém, como os contratos são anuais, o fantasma da crise ronda estes trabalhadores, que temem ficar sem seus empregos a partir de janeiro.

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