terça-feira, 9 de dezembro de 2008

PCdoB defende investimentos públicos para enfrentar a crise

A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil reuniu-se nesta segunda feira (8) para analisar a situação política criada com os reflexos da crise econômica e financeira mundial no país -- e para propor um conjunto de medidas para que o Brasil possa superar o atual quadro de dificuldades. Os dirigentes comunistas aproveitaram a ocasião para também fazer um balanço da atividade partidária neste ano de 2008, quando o PCdoB obteve grandes avanços políticos nas diversas esferas de atividade partidária.



O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, em sua análise da situação mundial, partiu de um retrospecto das primeiras iniciativas do próximo governo eleito nos Estados Unidos, capitaneado por Barack Obama. As tendências que se apresentam na montagem do gabinete Obama, disse Renato, mostram um perfil muito próximo do anterior governo de Bill Clinton. Até o lingüista e acadêmico prestigiado Noam Chomsky, em entrevista recente, procura identificar a linha do próximo presidente americano como um governo de centro dentro do próprio Partido Democrata. Obama justifica sua atitude como sendo fruto de uma política em que ele aproveitaria a “experiência” destes quadros do atual governo Bush sob seu comando, dentro de sua “visão”.

Na esfera econômica e financeira, Renato destaca o fato de que esta crise atual do capitalismo, em seus desdobramentos, atinge a economia real. A recessão foi devidamente identificada nos Estados Unidos, já presente na Europa e no Japão. Os problemas de escassez de crédito e financiamento se avolumam por todo o mundo. O prêmio Nobel de economia, Paul Krugman, em artigo na imprensa americana, vaticinou o desaparecimento da indústria automobilística nos EUA, em forma semelhante como aconteceu no passado, na Inglaterra. Em vários países europeus, como na Espanha, se verifica um dos menores índices de crescimento econômico, provocando desemprego em proporção crescente.

Renato lembrou também opinião recente do economista Paulo Nogueira Batista Jr, hoje na diretoria do Fundo Monetário Internacional, que identifica o círculo vicioso que abala a economia real, que por sua vez interfere na crise financeira, provocando grande instabilidade, gerando tormentas de todo o tipo na esfera social na Europa e nos EUA, e que atinge toda a chamada periferia do sistema capitalista mundial. Mesmo os pólos dinâmicos são também atingidos, como a China, a Índia, o Brasil e a Rússia.

No Brasil, comentou Renato, começamos a identificar o curso da conformação dos núcleos de forças políticas para 2010, em função da eleição presidencial. É uma polarização que se estabelece entre os tucanos, onde a figura maior é o governador José Serra, e as forças lideradas por Lula. As alianças que estão sendo construídas pela oposição, em âmbito nacional em torno dos tucanos, abarcam todas as instâncias, desde os Governos estaduais, as bancadas federais e estaduais, a mesa da Câmara e do Senado. O PSDB e o DEM – junto com o PPS --procuram atrair o Partido Verde para seu campo de influência. A disputa real é em torno do PMDB, que tradicionalmente tem sido o fiel da balança, e que cobra caro o seu apoio.

No campo de apoio do governo, o presidente Lula tenta firmar a candidatura da Ministra Dilma Rousseff, vinculando-a às realizações mais importantes do governo. Ela ainda não se apresentou formalmente aos partidos políticos. A candidatura de Serra, ao contrário, vai ocupando espaços, conquistando setores vacilantes. Nem o próprio PT está fechado com a candidatura Dilma. Os resultados políticos do Governo são muito positivos, mas não consegue passar este patrimônio político automaticamente.

Renato Rabelo destacou ainda em sua apreciação o papel da mídia brasileira, nesta grande batalha política em curso. Toda a grande mídia está comprometida com a volta dos tucanos em 2010: 1) Os grandes órgãos de imprensa e TV torcem para a crise se agravar; 2) Fazem crer que o Governo provoca uma grande gastança dos recursos públicos, apesar de retratarem em suas próprias páginas como os países desenvolvidos têm enfrentado a crise, investindo para todo o lado para salvar o capitalismo; 3) A mídia procura também apresentar o Estado como emprestador de última instância, mas que é – na realidade -- o salvador de última instância do grande capital; 4) O Brasil é o único país que tem o maior superávit fiscal do mundo, e possui um pólo de sistema bancário público importante, como o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia. A mídia procura desmoralizar de todas as formas o setor público; 5) Por fim, Renato se referiu à tentativa permanente da mídia de inviabilizar a integração do continente sul-americano.

Renato procurou demonstrar, em suas conclusões, que a repercussão da crise mundial no país poderá apresentar uma verdadeira encruzilhada para o Governo Lula. Se o presidente tomar uma atitude apenas defensiva, a situação poderá se agravar e desidratar as conquistas do Governo -- quebrando a estabilidade econômica, impedindo a agilização do PAC e do investimento social -- e todas as conquistas poderão ser perdidas. Enquanto isso, as forças da direita podem se apresentar como salvadoras da Pátria, apoiadas pela mídia. Mas se o Governo se sair de forma favorável da crise mundial, Lula se fortalece mais ainda, e pode haver um certo clamor da maioria da Nação para que Lula continue no comando do país.

Nesta reunião da Comissão Política, o PCdoB se posicionou em torno de medidas concretas para que o país estabeleça medidas de defesa da economia nacional. Lula, em suas entrevistas, tem procurado fortalecer a economia, faz discurso para estimular o consumo popular. O Governo procura liberar o compulsório para irrigar o crédito, organiza o Fundo Soberano, e fortalecer o sistema bancário público, e aplica uma parte do superávit primário para o investimento. O PCdoB vai lutar para defender a economia nacional, o investimento público e a queda dos juros da taxa Selic. O Partido Comunista, segundo Renato, deve conclamar todas as principais instâncias políticas do Governo a superar a escassez de crédito, impedir a fuga de capitais, combater a especulação contra o Real, onde o Banco Central já queimou dezenas de bilhões de Reais, com resultados pífios. Será necessário algum tipo de controle do câmbio e do fluxo de capitais especulativos. A banca privada tem poderes ilimitados no Brasil e já deveríamos conter os spreads abusivos, as elevadas taxas de juros reais, atualmente no patamar dos 7%, as mais altas do mundo, numa nova realidade econômica e financeira que exige políticas monetária e fiscal de caráter expansivo. A outra vertente fundamental da política do PCdoB é a defesa da renda do trabalho, do emprego e dos direitos dos trabalhadores. O movimento sindical, ponderou Renato, com a Marcha das Centrais, que mobilizou mais de 35 mil pessoas, deu um sinal dos trabalhadores ao Executivo e ao Legislativo, em Brasília, na semana passada. Este movimento unificou as 6 centrais dos trabalhadores, que levantaram as bandeiras da valorização do Trabalho, da manutenção dos aumentos do salário mínimo, numa plataforma comum que fato importante para o movimento social.

Por fim, os dirigentes comunistas ressaltaram os resultados positivos de sua atividade em 2008. O resultado eleitoral foi importante, resumiu Renato Rabelo, pois o PCdoB saiu-se muito bem nas eleições e conseguiu ter uma participação maior, ampliando sua influência. No movimento social, os comunistas conquistaram vitórias importantes, como foi o caso da construção junto com outras forças políticas e sindicais da fundação da CTB. No plano estritamente partidário o PCdoB consolidou a sede própria, conseguiu apoiar financeiramente as campanhas eleitorais nos Estados e já definiu seu projeto eleitoral para 2010, que em resumo é eleger uma grande bancada de deputados e deputadas federais para 2010.

De São Paulo,
Pedro de Oliveira

Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=47903

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